Conheça as regiões produtoras de café especial no Brasil
Por Cíntia Marcucci
Qual a diferença real da origem no café que você toma? Quer conhecer mais sobre essas informações da sua xícara?
O blog Café Logo Existo estreia hoje uma série de posts para falar sobre de onde vem o café especial que é produzido no Brasil. A ideia é divulgar cada uma das 36 regiões produtoras reconhecidas* pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, da sigla em inglês), com base no mapa de julho de 2024 e explicar suas características, municípios, história, reconhecimentos, certificações, prêmios e contar também um pouco das trajetórias das pessoas e das entidades que constroem cada região. Além disso, vamos também falar sobre o que mais, além de café, se destaca em cada cantinho cafeinado do Brasil
A ordem de posts é aleatória e, conforme a BSCA atualizar o mapa, nós atualizaremos também. A equipe do Café Logo Existo vai aproveitar as visitas às regiões para trazer um conteúdo exclusivo.
Nossa primeira parada é a Chapada de Minas, onde acompanhamos em 24 de outubro de 2024 a terceira edição do Prêmio Chapada de Minas, a convite do SEBRAE – MG.
*algumas regiões produtoras também são reconhecidas como Indicação Geográfica, titulo concedido pelo governo federal que é instrumento de propriedade industrial e busca distinguir a origem geográfica de um determinado produto ou serviço. A IG pode ser uma IP – Indicação de Procedência (que indica uma localidade geográfica famosa por um produto ou serviço) ou uma DO – Denominação de Origem (que indica que aquele produto ou serviço tem qualidades ou características que se devem exclusivamente à natureza ou ação humana naquele local).
https://www.bsca.com.br/page/regioes
Explicaremos caso a caso
1 – CHAPADA DE MINAS
No nordeste do estado de Minas Gerais, na região do rio Jequitinhonha, o café tem condições ideais para produzir grãos de alta qualidade: as temperaturas têm pouca variação durante o ano, com dias quentes, bastante sol, e noites sempre mais frescas, mas que nunca chegam a receber as geadas.
Essa última informação foi um alívio para os produtores que primeiro plantaram por lá. Grande parte vinha do norte do Paraná em busca de novas terras para cultivar após a grande geada de 1975 que destruiu muitas lavouras. Foi assim, com esses migrantes do café, que começou a história de cerca de 45 anos da Chapada de Minas com o grão, tanto que muitas propriedades continuam sendo familiares e estão já na terceira ou quarta geração de trabalho com o café.
Além do café, a região do Vale do Jequitinhonha produz madeira, mel e tem um importante artesanato em argila, com os filtros de água e as bonecas decoradas que estão também na busca de seu reconhecimento como produto do patrimônio cultural local.
No início dos anos 2000, a região já tinha reconhecimento como produtora de café, mas os primeiros passos mais consistentes na direção do café especial aconteceram no início da década de 2010, com a percepção das particularidades da bebida produzida ali: o café da Chapada é doce, achocolatado, com aroma intenso, de corpo aveludado, acidez média a alta e finalização média e prolongada.
Com o apoio do Sebrae-MG, desde 2019 existe uma organização dos produtores que é regulamentada, controlada e protegida por meio do Instituto do Café da Chapada de Minas (ICCM). Desde 2022, a região também realiza uma premiação para os melhores cafés locais. A terceira edição do prêmio foi realizada pela primeira vez na cidade de Capelinha, trazendo a imprensa e compradores de café para conhecer e avaliar o produto em sua origem. Foram 73 amostras e no leilão das sacas ganhadoras houve saca comercializada a R$ 5.500 (em 24/10/2024 a saca especial de 60 kg era vendida a R$ 1600), era um café, da Fazenda Primavera, que levou o primeiro lugar na categoria cereja descascado.
Leilão dos cafés premiadas atingiu R$ 5.500 por saca! (crédito Sebrae)
A premiação e o trabalho de desenvolvimento da região são importantes na busca pelo reconhecimento como Indicação Geográfica, que vem na esteira de um amadurecimento do mercado de consumo brasileiro na busca por identidade e certificações.
“Eu vi a diferença que faz esse trabalho quando estive no aeroporto de Belo Horizonte e, ao pedir um café, a pessoa perguntou de qual região eu queria e tinha a opção do café da Chapada de Minas. Alguns anos atrás, isso não aconteceria. Estamos no caminho certo”, diz Rodrigo Crimaudo Mendes, produtor da Fazenda Sequóia, nascido e criado na fazenda em que hoje trabalha.
Ele foi o vencedor do prêmio na modalidade “Tradições Naturais”, acima de 20 hectares e no ano passado também já havia figurado entre as primeiras colocações.
Confira os ganhadores do 3º Prêmio Chapada de Minas
Microlotes naturais (até 20 ha)
1º lugar: Tarcísio Costa Barbosa – Sítio Marmoreio
2º lugar: José Cunha Fernandes – Sítio Brejo do Cunha
3º lugar: Gilson Pereira da Silva – Fazenda Oda
Tradições naturais (acima 20 há)
1º lugar: Rodrigo Crimaldo Mendes – Fazenda Sequoia
2º lugar: Ronaldo Morais Pena Filho – Fazenda Primavera
3º lugar: Sérgio Meirelles Filho – Fazenda Alvorada
Tradições cereja descascado (acima 20 há)
1º lugar: Ronaldo Morais Pena Filho – Fazenda Primavera
2º lugar: Rodrigo Crimaldo Mendes – Fazenda Sequoia
3º lugar: Matheus Lettieri Junqueira – Fazenda Riviera
FICHA
Região: Nordeste de Minas Gerais, Vale do Jequitinhonha
Municípios: 22 (Água Boa, Angelândia, Aricanduva, Capelinha, Caraí, Carbonita, Catuji, Diamantina, Felício dos Santos, Franciscópolis, Itaipé, Novo Cruzeiro, Itamarandiba, José Gonçalves, Ladainha, Leme do Prado, Malacacheta, Minas Novas, Setubinha, Senador Modestino Gonçalves, Turmalina e Veredinha
Início do cultivo de café: década de 1970
Entidade representativa: ICCM – Instituto do Café da Chapada de Minas
Site: chapadademinas.org.br
Produtores: 5.800
Hectares cultivados: 30.000
Produção: 400 mil sacas / ano
Características geográficas: está na divisa entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado, apresentando influências de ambos. A vegetação é predominantemente do cerrado, com altitudes entre 700 e 1300 metros, temperatura anual entre 16º C e 22º C
Características sensoriais: sabor doce, achocolatado, caramelo, frutas vermelhas, com aroma intenso e amanteigado, de corpo aveludado, acidez málica média a alta e finalização média e prolongada